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Revoltas, Revoluções e Reviravoltas

  • O Anacrônico
  • 3 de jun. de 2020
  • 4 min de leitura

Talvez uma das coisas que mais movem a humanidade é a esperança, sem ela a maioria de nós ficaríamos parados no mesmo local. Eu associo outras três palavras a esperança: medo, mudança e coragem. Esperança tem haver com mudanças e os temores dos seus processos. Por exemplo, alguém que está em um emprego ótimo e não quer perdê-lo por nada, ou alguém que está desempregado e almeja encontrar um emprego qualquer. Nas duas formas há um temor, o da não permanência naquela situação boa, e o da permanência naquela situação ruim. A coragem surge entre o medo e a esperança, como alimento para seguir em frente e chegar onde se espera, seja para permanecer como está, ou para mudar de condição.

Na história da humanidade podemos perceber que sempre houveram grandes movimentos de ruptura na percepção do pensamento comum, esses eventos muitas vezes mudam drasticamente os usos e costumes de uma sociedade e todo um estilo de vida já adaptado. Algumas vezes são as minorias que lutam para romper com os conceitos das maiorias dominantes, e outras vezes são as maiorias que combatem as minorias mandantes. Nem sempre é preciso guerrear, pois algumas transições de pensamento podem ser pacíficas, mas outras são violentas e brutais, terminando com os conquistadores subjugando e oprimindo os conquistados. Muitas guerras foram travadas pelos descontentes, e os motivos vão dos mais fúteis como, não gostamos da sua religião, até os mais relevantes como, na sua terra tem comida e na nossa não. O fato é que tudo gira em torno de mudanças que não podem mais esperar para serem feitas. Nesse sistema de sobreposição de pensamentos, muitos reinos, impérios e até mesmo religiões caíram para dar lugar a instituições novas. O fato é que nem sempre as revoltas são organizadas e os pleitos são uniformes. Dentro de uma sociedade, nos acostumamos a nos aproximar de pessoas ou grupos que tenham a mentalidade mais parecida com a nossa. Porém, temos que levar em consideração, que um mesmo assunto pode ter infinitas interpretações diferentes, então apesar de pensarmos parecido, não pensamos igual. Supostamente as revoltas, que por vezes geram revoluções, são pleitos de um teórico senso comum de uma determinada massa de indivíduos que exigem mudanças. Só que cada ser é singular e dentro de tanta concordância, individualmente sempre haverá discordância, nem tudo que é bom para um é bom para o outro. Durante todos o períodos históricos é corriqueiro encontrarmos revoltas que começaram pequenas e tomaram força com o passar do tempo. As lideranças desses movimentos conseguiam convencer quem já se sentia de alguma forma desconfortável com o sistema vigente, dizendo que se eles fossem os líderes tudo seria diferente para a melhor. Isso quando tinham líderes, não é raro, alguns desses movimentos serem tão momentâneos e passionais que nem líderes se formavam, a massa se movia intuitivamente, cada um com seu motivo particular bem estruturado, porém com um senso coletivo vago e confuso, e mesmo assim conseguiam ascender ao poder. Mas tudo isso está envolvido justamente com medo, esperança, coragem e mudança. Contudo nem sempre quando o objetivo é conquistado, no caso o poder, a vida muda para a melhor. Alguns exemplos mostram que o sucesso pode gerar o fracasso, vide a Revolução Francesa na segunda metade do século XVIII. Após tomar o controle da França, os líderes burgueses não conseguiram suprir as expectativas e necessidades dos cidadãos mais pobres, que foram os principais responsáveis pela queda da monarquia, e, para se imporem diante da pressão popular, passaram a oprimir talvez até mais violentamente que o sistema monárquico deposto por eles mesmos. Até surgir Napoleão Bonaparte, que restabeleceu o controle do país e se auto intitulou Imperador da França, restabelecendo também as cortes dissolvidas pelos revolucionários alguns anos antes. Outro exemplo é a Revolta dos Cabanos, no estado do Grão Pará, que atualmente abrange quase todos os estados do norte do Brasil, na primeira metade do século XIX. Inspirados pela Revolução Francesa, índios, mestiços, pobres e negros, que viviam em situação precária, liderados por indivíduos das elites brancas, tomaram o poder do estado e formaram um novo governo. A falta de preparo e divergências internas dividiram o grupo e novas revoltas eclodiram, separando irremediavelmente os cabanos e deixando-os politicamente enfraquecidos, e após várias trocas ineficientes de governantes, o controle do estado foi retomado pelas forças imperiais brasileiras. Essas duas revoltas começaram iguais, através do povo mais esquecido e explorado pelo estado, que tinham como líderes indivíduos de classes sociais superiores. É claro que isso inevitavelmente daria errado, pois líderes e liderados tinham diferentes convicções e formas de enxergar a sociedade, logo, conflitos ideológicos apareceram e dividiram as classes, que durante as revoluções eram iguais, mas com a tomada do poder as diferenças sociais voltaram a ser bem evidentes. Isso dissipou os revoltosos em grupos cada vez menores e essa falta de união e uma liderança centralizada enfraqueceu os rebeldes até que o poder antigo retomasse o poder ou uma nova potência se revelasse. No caso o Império Brasileiro derrotou os cabanos, e Napoleão destituiu os burgueses na França.

A esperança de dias melhores une as pessoas, quase que numa histeria coletiva, até os que aguentam as coisas de forma passiva e estática se encorajam com o furor popular, é a chance de mudar, ver a massa manifestando as suas insatisfações anima os mais pacatos a se manifestarem também. Convencidos que aquilo é o certo e que tudo melhorará no futuro através dessas atitudes. Não existem somente exemplos negativos, dentro de milhares de revoluções que aconteceram ao longo da história algumas deram certo, mas só até aparecer alguém, ou um outro grupo, que não concorda com o status quo em que vivem e querem mudá-lo e moldá-lo a seus gostos. Mas acima de tudo, todas essas reviravoltas no poder tem influência direta com os medos e esperanças das pessoas, que através da coragem lutam por um futuro melhor para si próprias ou para seus grupos. Talvez esse futuro melhor nunca chegue, mas ele sempre vem e traz consigo mudanças, boas ou ruins, querendo ou não querendo, parados ou em movimento.

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